Palavra de Expert

A filósofa e especialista em Educação Básica, Ana Paula Rabela, convida o leitor à reflexão sobre a Literatura e a leitura crítica em tempos de notícias falsas.

Por Ana Paula Rabelo

 

Abrir os olhos, observar, ver e sentir cores, sons, diversidade, divergências, desigualdades, enfim, se impactar com as complexidades do estar vivo. Não se pode negar a importância da alfabetização, dessas ferramentas pedagógicas que remexem a porção cognitiva e que são utilizadas quando nos movimentamos como gente pensante, atuante e protagonista de nossa história, desejos e sonhos.

Porém, todo esse “controle” de ser e estar no mundo não é tão simples assim, vivemos dias sombrios, em que o processo civilizatório se encontra entrincheirado, lutando contra o obscurantismo da falsa notícia, das meias-verdades produzidas para fins mesquinhos e de restrição ao exercício do pensar livremente, observar com calma, pesquisar e oferecer ao mundo, já tão castigado, uma oportunidade de repensar, rever e analisar fatos e feitos à luz de um labor mínimo de análise de discursos e narrativas que, muitas vezes ferem princípios essenciais ao contexto social.

O que fazer diante desse quadro terrível de retrocesso? Não se sabe ao certo se há um caminho, um jeito de resolver esse problema da crescente falta de criticidade e responsabilidade com o que se é dito, escrito, argumentado.

Acredito que o caminho está na educação, mais precisamente no incentivo à leitura, não só a leitura para a compreensão do vocabulário, ou da escrita, mas a leitura da vida, do detalhe, do andar sossegado das formigas, da despedida do sol no fim do dia, das coisas pequenas, das gentilezas, dos afetos, das canções de ninar, dos gritos nas brincadeiras de rua, das histórias antigas recontadas infinitamente pelos mais velhos.

Sim, a leitura do mundo enquanto ele acontece. Ler uma poesia, um livro, conhecer o ponto de vista de alguém, do diferente, do singular, assistir a um filme e ser transportado para longe de zonas de conforto, retratos e paisagens que nos compelem a ver a realidade sob diferentes perspectivas. Educar nossa sensibilidade para ouvir a música cantada pelas vozes das lavadeiras que habitam os vales desse mundo afora, alcançar o lugar de escuta do outro, ver com os olhos do cuidado, deixar o coração ouvir e sentir.

Talvez esteja aí, um caminho possível.

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